10 de julho de 2018

Fanny Hill de John Cleland



Fanny Hill
Autor: John Cleland
Editora: LePM Pocket
Edição: 2008
Páginas: 256
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O livro surpreende pela prosa sensual de Cleland e pelo estilo e elegância que o autor emprega ao contar as aventuras de iniciação sexual de uma jovem - nem tão inocente assim - que, órfã aos quinze anos, vai para Londres tentar a vida e acaba se tornando uma requisitada cortesã. Antes da virgindade de Fanny ser posta à venda por uma cafetina, a jovem se apaixona por Charles, com quem foge. Passam a viver juntos, mas, inesperadamente, ele precisa deixar a cidade. Fanny passa, então, de menina insegura a cortesã de muitos amantes. Nesse ponto, o romance se torna inovador, já que Fanny, além de não mostrar arrependimento pelas suas ações, descreve com detalhes explícitos suas aventuras, conferindo à obra um caráter de ode ao prazer sexual.

Demorou e eu até duvidei que essa resenha fosse sair, mas como faz parte do Projeto 1001 livros eu mantive na pauta e aqui está a experiência de leitura com Fanny Hill de John Cleland, livro publicado pela primeira vez em 1749, e que desde então divide leitores na mesma proporção que surpreende com uma história não tão comum para a época e até mesmo para os dias de hoje.

O livro começa quando Fanny fica órfã aos 15 anos. Sem dinheiro, bens ou parentes a jovem segue para Londres em busca de um emprego e uma vida nova. Chegando na cidade logo é apadrinhada por uma mulher que a leva para casa e apresenta, junto com outras moças, sem meias palavras, a rotina de uma cortesã, os truques, a movimentação dos clientes e até os segredos da casa. Nesse começo acontece uma reviravolta para Fanny que parece ter encontrado um caminho favorável, até que uma nova surpresa muda a vida da personagem e a coloca de vez no mundo das cortesãs.



Fanny é uma personagem carismática, espontânea e inteligente. Embora a leitura não tenha sido incrível, a protagonista é um dos pontos altos do enredo. Não se lamenta em excesso, constrói sua vida com base nas experiências que vive e nas lições que aprende e no geral, por não englobar nem 10 anos da vida de Fanny, o amadurecimento é significativo.

Verdade que o autor não coloca grandes obstáculos da vida da personagem. Durante a história isso não me incomodou, mas pensando sobre o enredo depois senti falta sim de conflitos. No geral John Cleland desenvolve um contexto sem rixas ou desentendimentos, e Fanny não passa por situações limites, embora se aproxime de perder o lugar onde mora ou de não encontrar nenhum cliente. No final das contas parece que o foco do autor foi mesmo representar a vida de uma classe de trabalhadoras que nunca foi bem vista pela sociedade.



E por falar em sociedade esse é outro elemento importante de Fanny Hill. Há uma preocupação imensa em que a aparência seja mantida, que as moças não sejam apontadas como cortesãs, assim como suas senhorias como donas de casas de pecado. Durante todo enredo a vida de Fanny é um misto do mundo do prazer através do sexo com a rotina de uma jovem que tem atividades diárias como outras quaisquer, ricas ou pobres.

Sobre a sociedade inglesa do século XVIII vale ressaltar que além das situações retratas por John Cleland no livro, que na minha opinião são uma crítica ao se importar demais com a aparência e não necessariamente com as atitudes, o livro foi banido e continuou circulando através de cópias clandestinas. Por mais que a sociedade julgasse o caráter da história, existia (e existe ainda) na mesma proporção o interesse em conhece-la.

As paixões violentas raramente duram muito, e as das mulheres menos do que quaisquer outras. Uma calma mortal sucedeu-se e a essa tempestade, que terminou num abundante banho de lágrimas.
página 87


O sexo também é um elemento presente na história porque afinal são as memórias de uma cortesã. O autor desenvolve um texto sensual e até romantizado, evitando palavras cruas, gírias ou expressões, o que favorece a narrativa especialmente nos momentos mais descritivos e com cenas em sequência, que acontecem predominantemente na metade inicial do livro.

Ainda sobre esse tópico quero comentar duas opinião: John Cleland soube muito bem retratar a diferença entre um homem pela qual Fanny é interessada de um cliente, mostrando como a moça se comporta e pensa em cada situação. Por outro lado, muitas coisas que o autor coloca como algo sensual pelos olhos da protagonista, na minha opinião, são elementos predominantes do imaginário masculino e não feminino. Muita coisa funciona para ambos sexos, independente do parceiro, mas nem tudo. Também senti isso em Madame Bovary e O amante de Lady Chatterley.




Por fim, acho importante ressaltar que eu tinha uma expectativa diferente sobre o livro, imaginei que se tratava de uma história com personagens populares, que chegavam a profissão por falta de alternativa, mas na verdade Fanny Hill retrata a vida e rotina das cortesãs de luxo, de moças cuidadas e tratadas para atender nobres e que também através deles juntam seu dinheiro. Não é um ponto negativo, claro que não, foi realmente uma perspectiva pessoal errada, o que resultou numa certa falta de identificação com a história no todo.

Minha nota para Fanny Hill foi de três estrelas no Skoob. Gostei de ter conhecido a história de John Cleland, mas não foi um clássico que se destacou entre outros ou uma leitura com a sensação de essencial e indispensável. Verdade que o livro tem muitos temas pertinente e por isso vale a leitura, mas sem aquela expectativa, sabe?

Vídeo de opinião publicado no canal do Estante da Nine

Beijos!

Fotos: Nine Stecanella
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