13 de julho de 2018

O planeta do sr. Sammler de Saul Bellow



O planeta do sr. Sammler
Autor: Saul Bellow
Editora: Abril Cultural
Edição: 1982
Páginas: 302
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Sobrevivente de um campo de concentração nazista,o velho judeu Sammler emigra para os Estados Unidos e passa a viver outro pesadelo:a desintegração da vida urbana de Nova York.Intimidado pelo que vê(as cabinas telefônicas com os fios cortados,os assaltos à luz do dia,a licenciosidade dos costumes)prefere o isolamento,monologando permanentemente sobre as condições da existência humana.

Essa foi uma experiência e tanto com a coleção Grandes Sucessos. Nos primeiros capítulos de O planeta do sr. Sammler de Saul Bellow eu estava confusa com a narrativa e esperava uma determinada linha do tempo. Alguns capítulos depois, felizmente, fui surpreendida pelo autor que escolhe uma maneira criativa e diferente de contar a história de um personagem peculiar e terminei o livro com aquela sensação boa de que a leitura foi excelente.

Arthur Sammler não é o que poderíamos chamar de senhor simpático. Judeu, sobrevivente de um campo de concentração, extremamente influenciado pela cultura e costumes ingleses e vivendo a velhice em Nova York, o senhor Sammler é no mínimo um personagem peculiar. E fascinante. O livro começa em algum dia do presente (acredito que nos anos 1960 pela data de publicação da primeira edição), e a partir daí apresenta a rotina do personagem, seu passado, suas relações familiares e pensamentos, para no todo construir o planeta de Arthur Sammler.

Narrado em 3ª pessoa, o livro demorou um pouco a me envolver. Desde o começo eu me interessei pela história, mas estava desatenta ao texto e confusa em alguns trechos. O primeiro capítulo foi um desafio pela estranheza e também por ser extenso, mas ao final do segundo eu já estava imersa na história e a escolha da ligação entre passado e presente ficou clara, a partir de então a leitura fluiu com mais facilidade.



Além do personagem, a recomendação do livro valeria só por ele, o estilo narrativo de Saul Bellow foi o grande extra que a leitura me trouxe. O autor utiliza elementos como cenas, diálogos, músicas ou situações que o senhor Sammler vive no presente para trazer uma lembrança do que ele viveu no passado e então explicar algum trecho de sua vida. Uma vez reconhecida essa estrutura, a cada nova conexão eu ficava ansiosa para saber o que ligaria os dois momentos, ponto alto do enredo.

As mudanças culturais que uma pessoa precisa lidar ao deixar a pátria de origem também são elementos relevantes, assim como religião, relacionamentos, política e literatura. W.G. Wells é o elemento de ligação entre o senhor Sammler e sua filha e é interessante como o autor conecta a vida de um personagem fictício com a história de uma pessoa real. Fez muito sentido, aliás. Os personagens do livro tem características particulares, tornando todos muitos peculiares e diferentes, ao mesmo tempo que incrivelmente familiares.

Velhice e juventude certamente são temas importantes da história porque em vários momentos o senhor Sammler é reprimido ou repreendido de que é velho e talvez não entenda o que está acontecendo ou não saiba como as coisas funcionam. Um paralelo interessante com a admiração que a família sente por ele em muitos momentos questionada pelo próprio personagem se foi apenas pela sobrevivência a uma situação terrível como um campo de concentração e tudo que a 2ª Guerra Mundial representou.



A sobrevivência e a vida também são fundamentais na narrativa. O leitor acompanha muitas reflexões principalmente pela perspectiva do senhor Sammler e muitas interpretações e opiniões que ele não externa, não conta pra ninguém. Por outro lado, através dos diálogos, Saul Bellow expões certas fraquezas da personalidade humana que tornam-se vulneráveis apenas com algumas frases.

Em uma pesquisa rápida descobri que o autor ganhou o Nobel de Literatura e talvez isso diga muito do meu sentimento descrente no início e minha satisfação ao final de O planeta do senhor Sammler. Um livro que também questiona a velocidade de informação e tecnologia, assim como a ascensão social, riqueza e pobreza, conservadorismo e liberalismo.

Leitura recomendada para quem gosta de personagens marcantes e diferentes, enredos com referências históricas e discussões existencialistas porque, na minha opinião, essa é característica predominante do livro, embora não a única. A narrativa é um extra porque me exigiu esforço no início, e ao final foi um dos livros mais surpreendentes dos últimos tempos.

Opinião sobre o livro no vídeo da semana do projeto Leitura todo dia

Beijos!

Fotos: Nine Stecanella

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