Finalmente a série 3 motivos para ler está de volta no Estante da Nine assim como indicações de leitura de livros, contos e/ ou poesias que eu li para o projeto de clássicos brasileiros e de língua portuguesa. A ação começou no ano passado com recomendação de Cancioneiro de Fernando Pessoa e Mãe de José de Alencar. O papo hoje é sobre O cemitério dos vivos de Lima Barreto, livro incompleto do autor e publicado postumamente.
Uma rápida pesquisa entre leitores e perfis de Lima Barreto na internet indica que O cemitério dos vivos poderia ser uma obra com traços biográficos, já que o autor teve problemas de alcoolismo, que agravaram consideravelmente sua saúde. A leitura, apesar de demorada e espaçada, foi interessante e perturbadora, por isso e apesar da demora, o livro merecia um registro e uma indicação no Estante da Nine.
1. CENÁRIO
É impossível ficar indiferente ao cenário do livro. Lima Barreto retrata um hospital psiquiátrico que funciona como um depósito de humanos, logo o titulo sugestivo fica claro nas primeiras páginas. Todo tipo de gente para nesse lugar, que tem regras, mas tantas exceções que parece impossível qualquer tipo de civilidade. O ponto alto é que mesmo num lugar tão caótico é fácil encontrar hierarquia, amizade, submissão e decadência, a mesma organização social de uma comunidade, a do livro formada pelos excluídos sociais.
2. ALCOOLISMO
O protagonista de O cemitério dos vivos é alcoólatra, então o tema é presente em todo o enredo. Acho importante destacar esse aspecto porque a enfermidade do personagem é leve se comparada a de outros pacientes, mas ao mesmo tempo é um inferno. O autor consegue expor como um viciado experimenta certas sensações e porque é tão difícil se manter afastado da bebida. Minha opinião é que Lima Barreto também expõe como o bêbado é figura recorrente na sociedade e não é levado a sério ou ajudado até que a situação se torna crítica para a saúde ou socialmente vergonhosa. Isso é questão de interpretação, claro, mas pensei muito nisso, especialmente porque Lima Barreto teve problemas com bebida, então deve sim ter exposto suas experiências em trabalhos como esse.
3. NARRATIVA
Eu adoro ler livros que me desafiam de alguma maneira e O cemitério dos vivos foi exatamente isso. A narrativa fragmentada, incompleta, até sem sentido, fez com que eu demorasse para gostar da história e querer continuar, mas eu também passei a observar pessoas que bebem, e como elas pensam e se expressão quando estão alcoolizadas, e muitas vezes os pensamentos são isso mesmo: fragmentos. Mesmo difícil, lenta até, essa leitura me deixou satisfeita por ter encarado o desafio até o final, porque eu gostei, valeu tudo, e também porque me deixou triste pela realidade que parece ter mudado pouquíssimo em 100 anos (e já falei isso tanto por aqui que é assustador).
Então é isso. Espero que vocês tenham gostado da lista e da recomendação de hoje porque mesmo com o caderno de pautas super atrasado não quis deixar essa dica para trás. O cemitério dos vivos de Lima Barreto é um livro disponível de forma gratuita na Amazon e vocês podem baixar para Kindle e aplicativos pelo link aqui. Se já leu ou quer ler O cemitério dos vivos participa nos comentários e deixa tua recomendação de leitura.
Beijos!
Foto Lima Barreto: Divulgação
Foto Kindle: Nine Stecanella
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