6 de junho de 2016

As vantagens de ser invisível de Stephen Chbosky




As vantagens de ser invisível
Autor: Stephen Chbosky
Editora: Rocco
Edição: 2007
Páginas: 224
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Cartas mais íntimas que um diário, estranhamente únicas, hilárias e devastadoras - são apenas através delas que Charlie compartilha todo o seu mundinho com o leitor. Enveredando pelo universo dos primeiros encontros, dramas familiares, novos amigos, sexo, drogas e daquela música perfeita que nos faz sentir infinito, o roteirista Stephen Chbosky lança luz sobre o amadurecimento no ambiente da escola, um local por vezes opressor e sinônimo de ameaça. Uma leitura que deixa visível os problemas e crises próprios da juventude.

Sabe um livro legal que poderia ser muito bom? Resumindo em uma frase, foi isso que senti com As vantagens de ser invisível de Stephen Chbosky. Entre os comentários positivos e negativos feitos por amigos e leitores do Estante da Nine nas redes sociais me preparei para algo que poderia ou não ser bacana. O resultado é que fiquei em cima do muro. O livro tem muitos aspectos interessantes, mas não foi marcante, especial ou favorito.

A história é contata por Charlie, o protagonista do livro, através de cartas que são enviadas para um amigo que o leitor não conhece. Ao longo do enredo, acompanhamos a nova fase do personagem no ensino médio, suas dúvidas e incertezas, sua solidão, medos e também a grande mudança que acontece em sua vida assim que conhece os irmãos Sam e Patrick.

Eu adorei o fato de acompanharmos adolescentes dos anos 1990 e como eles agem como pessoas da sua idade. Um dos aspectos que eu mais reclamo em livros jovens é que os autores parecem ter medo de representar o adolescente como ele é: impulsivo, destemido e inconsequente. Em As vantagens de ser invisível eles são tudo isso. Brigam, bebem, usam drogas, transam, estudam, fazem novas amizades, enfim, tudo aquilo que eu gostaria de ver em outras histórias do segmento.



No entanto, o que me incomodou foi justamente a forma como a história é contada. O romance epistolar é muito interessante em vários contextos, mas no caso de As vantagens de ser invisível eu senti falta da discussão de certos temas, já que o autor apresenta tantas situações delicadas e que precisam ser debatidas, mas não são. O leitor acompanha a história através das cartas e pela visão de Charlie, então é preciso, em muitos momentos, se distanciar do personagem e avaliar a situação sob outro olhar.

Charlie também me deixou em dúvida. Dúvida essa que vi muitos leitores comentarem em suas resenhas, vídeos ou postagens em redes sociais. O protagonista é autista ou apenas tímido? Charlie tem noção do todo, principalmente na escola? E senso de humor? Parece que ele encara tudo de forma literal. Em certos momentos eu realmente me identifiquei com o protagonista, especialmente sobre incertezas da idade, mas no geral foi muito difícil compreender sua personalidade.



Sam e Patrick roubam a cena, sem dúvida. Não só porque eles são importantes para a nova fase de Charlie na escola, como também porque eles tem personalidades marcantes e dão graça ao livro. Vale ressaltar que a mudança na vida do protagonista não é no sentido de se adequar ao grupo, mas sim de que ele faz parte de algo e que ele tem amigos que o aceitam como ele é. Ponto extra para as músicas citadas ao longo das cartas. Eu já publiquei a Playlist especial As vantagens de ser invisível e vale muito a pena escutar.

Se tu, assim como eu, sempre teve curiosidade de ler As vantagens de ser invisível, vale a pena começar e tirar as próprias conclusões. Eu esperava uma história séria e com temas polêmicos, e em parte é isso que Stephen Chbosky entrega. Mas a narrativa através das cartas não proporciona a conversa e debate sobre os assuntos abordados, algo que eu considero fundamental, por isso a experiência não foi positiva como eu imaginava (e gostaria).

Algumas considerações sobre a adaptação
O filme foi dirigido pelo próprio autor, Stephen Chbosky, e esse é um dos casos em que gostei mais da adaptação cinematográfica do que do livro. Ambos são muito semelhantes no contexto geral da história, mas o filme se limita a alguns assuntos apresentados no livro e dialoga sobre eles.

O ritmo do enredo também é melhor no filme. Talvez pela minha dificuldade de visualizar Charlie no livro eu tenha achado algumas cartas desnecessárias, mas como o filme é desenvolvidos pelas experiências do personagem, e não só pela descrição em correspondências, eu consegui entender o protagonista muito melhor na adaptação. Assim como Sam, Patrick e os demais personagens secundários.


Um ponto negativo sobre o filme é que ele foi elaborado totalmente pela visão do politicamente correto, então aquelas características que comentei acima, sobre a representação do adolescente, são sutis na adaptação. O filme também não deixa totalmente claro que a história é ambientada no início dos anos 1990, mas fica subentendido pelas fitas, pela falta de celular, pelos carros e até por alguns passatempos escolhidos pelos personagens.

No geral, livro e filme se complementam bem. O que eu não gostei na obra original, gostei na adaptação. E vice-versa. Para quem só conhece uma das versões de As vantagens de ser invisível eu recomendo que procure pela outra. Caso tenha lido o livro, dê uma chance ao filme. E caso tenha assistido apenas ao filme, dê uma chance ao livro. Nem tanto para comparar um ao outro, mas para ver duas versões de uma história que apesar de semelhantes têm suas diferenças em cada formato e funciona em ambos.

Beijos!

Foto: Nine Stecanella
Imagem do filme: Divulgação
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