18 de junho de 2016

Factótum de Charles Bukowski




Factótum
Autor: Charles Bukowski
Editora: LePM Pocket
Edição: 2015
Páginas: 176
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Em Factótum, segundo romance de Charles Bukowski, publicado em 1975, encontramos mais uma vez Henry Chinaski, alter ego do autor, protagonista de vários dos seus livros e um dos mais célebres anti-heróis da literatura americana. Durante a Segunda Guerra Mundial, o loser Henry (que reaparece mais tarde em Misto-quente) é considerado "inapto para o serviço militar" e não consegue entrar para o exército. Assim, enquanto os Estados Unidos se unem em torno da guerra e os homens alistados são vistos como heróis, Chinaski, sem emprego, sem profissão nem perspectiva, cruza o país, arranjando bicos e trampos, fazendo de tudo um pouco – daí o nome do livro –, na tentativa de subsistir com empregos que não se interponham entre ele e seu grande amor: escrever.

Vocês não têm ideia de como eu estava com saudade de ler Bukowski. Numa dessas promoções loucas do Submarino comprei Factótum, no ano passado, e felizmente tinha uma opção na estante quando resolvi ler algo do autor. Apesar de curta, essa novela de Buk consegue tratar sobre muitos assuntos pertinentes através de seu boêmio protagonista.

Henry Chinaski não segue as regras impostas pelos pais. Rejeitado pelo exército durante a Segunda Guerra Mundial, o personagem sai de casa em busca de uma vida livre enquanto tenta se firmar como escritor. Mas as coisas são muito difíceis. O protagonista percebe desde cedo que seu país, Estados Unidos, não é exatamente a terra das oportunidades. E o leitor acompanha suas andanças por várias regiões da América enfrentando todos os desafios possíveis.

Eu poderia citar aqui todos os temas que me fizeram gostar desse livro, mas para não estragar a surpresa separei apenas alguns. Claro que eu já gosto da narrativa de Buk e sua perspectiva sobre o mundo. Em Factótum conhecemos um personagem que prefere seguir seu caminho e sonhos, ao invés de corresponder a expectativa da família e da sociedade.

Apesar do estilo de vida boêmio, das bebidas, do sexo e das relações instáveis, Henry Chinaski não é um personagem detestável. Sabe se aproveitar de situações, bem como abrir mão em outras. Na mesma proporção que recebe algo de alguém, retribui quando pode. É humano até os ossos o que faz com que nós, leitores, em algum momento criemos identificação.

O tema trabalho também é importante em Factótum. O protagonista aceita os cargos mais baixos para se sustentar e percebe desde cedo como funcionam as relações dentro de uma empresa: se você agradar o chefe tem chance de durar mais, e se não é só mais um dos tantos que vem e vão. Apesar da guerra, ainda existem muitos trabalhadores para poucas vagas, uma diferença constante e atual em qualquer lugar do mundo.

Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?
Factótum - página 107

É claro que a vida do artista sem glamour é um dos pilares da história. Através de Henry Chinaski, seu alter ego, Buk expõe a real luta do escritor, que vive no constante conflito entre escrever algo original e criativo ou algo que será publicado pelas revistas e jornais do pais sem censura. Os relacionamentos no livro, apesar de instáveis, são relevantes para certos trechos da história. Porém, Henry Chinaski é acima de tudo alguém solitário e que vive bem (dentro do possível), nessa condição.

Das relações familiares a influência da guerra, Factótum é um livro que em poucas páginas consegue traçar uma panorama da América de meados do século XX. Ao mesmo tempo que existe o sentimento de transformação, existem também todos os empecilhos sociais possíveis: a rejeição da família, a falta de amigos, os empregos indecentes, a falta de dinheiro e o julgamento pela aparência ou pelo estilo de vida. Bem, basicamente tudo que ainda vivemos nestas décadas iniciais do século XXI.

Para os leitores que ainda não conhecem Charles Bukowski fica sem dúvida a indicação. Factótum é um livro que aborda assuntos sérios ao mesmo tempo que apresenta as principais características do trabalho do autor. A história é o segundo romance publicado de Buk, lá em 1975. E continua atual como nunca.

Beijos!

Foto: Nine Stecanella
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