A cor púrpura
Autora: Alice Walker
Editora: José Olympio
Edição: 2016
Páginas: 336
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Projeto 1001 livros
A cor púrpura retrata a dura vida de Celie, uma mulher negra no sul dos Estados Unidos da primeira metade do século XX. Pobre e praticamente analfabeta, Celie foi abusada, física e psicologicamente, desde a infância pelo padrasto e depois pelo marido. Um universo delicado, no entanto, é construído a partir das cartas que Celie escreve e das experiências de amizade e amor, sobretudo com a inesquecível Shug Avery. Apesar da dramaticidade de seu enredo, A cor púrpura se mostra muito atual e nos faz refletir sobre as relações de amor, ódio e poder, em uma sociedade ainda marcada pelas desigualdades de gêneros, etnias e classes sociais.
Recomendação não faltou na internet de A cor púrpura de Alice Walker e certamente comecei essa leitura com uma considerável expectativa. Felizmente não me decepcionei e entrei para o grupo de leitores que amou e favoritou a obra vencedora do Prêmio Pulitzer de 1983. Hoje eu vou compartilhar com vocês alguns dos meus pontos preferidos do livro e porque também recomendo A cor púrpura.
"Mas como poderia? Existem tantas coisas que nós não compreendemos. E tanta infelicidade acontece por causa disso."
Posição 2.358 a 2.359 (Kindle)
O livro construído através de cartas escritas a Deus por Celie, a personagem principal, retrata a vida de uma adolescente negra dos primeiros anos de 1900 que além de viver uma vida de restrições e tarefas é abusada pelo padrasto. Na verdade a protagonista acredita que ele seja seu pai e até para preservar a irmã mais nova mantém o abuso em silêncio. O primeiro conflito grave da vida de Celie é explicar para mãe sua gravidez e lidar com o fato de que seus dois filhos, um menino e uma menina, foram levados embora.
Abuso é o primeiro tema marcante do livro e com ele o tabu que é se comentar a respeito. Paira no livro um sentimento perigoso que permeia muitos pensamentos até hoje: que a vítima é culpada. A reação da mãe de Celie é desoladora, mas também fica claro a submissão das mulheres e o fato de que a matriarca não vai enfrentar o marido em busca da verdade. Uma situação semelhante a do livro aconteceu na minha família décadas atrás e ainda é tabu. Há um século deveria ser muito pior.
Após a morte da mãe, Celie é descartada pelo padrasto e oferecida em casamento. Começa então o segundo ciclo de abuso da vida da personagem, agora pelo marido. Celie passa anos submissa a rotina do lar, cuidando de filhos que não são dela e vivendo ao lado de um homem que em nenhum momento a trata como ser humano. É desesperador avançar nas cartas, escritas de forma simples, as vezes ingênua, e saber que como Celie muitas mulheres viveram e vivem até hoje nessas condições. Por um bom trecho do livro eu acreditei que a história seria uma sucessão de acontecimentos ruins, mas as coisas mudam, ainda bem!
"A primeira vez queu vi inteiro o longo corpo negro da Shug Avery com os bico do peito que nem ameixa preta, parecendo a boca dela, eu pensei queu tinha virado homem."
Posição 607 a 608 (Kindle)
As coisas começam a mudar para Celie quando Shug Avery chega na casa de Senhor. Aliás, a protagonista nunca chama o marido pelo nome. O tratamento é sempre em reverência. Shug Avery, uma cantora de voz incrível e deslumbrante, amor da vida de Senhor, mostra a Celie os primeiros gestos de carinho e encorajamento. Esse é um dos meus trechos favoritos do livro porque Alice Walker constrói o empoderamento de Celie a partir dessa relação de amizade com uma mulher tão diferente. No final das contas, ambas tem motivos para risos e choros, como todos nós.
No trecho final de A cor púrpura o sentimento é totalmente renovado. Se o começo e boa parte da história são tristes e melancólicos, o desfecho é surpreendente, corajoso e muito motivador. Em vários trechos do livro Celie comenta que sobrevive, que é uma sobrevivente, mas ao final de tudo sua fé e determinação são compensadas. Não entrego o motivo aqui, porque é outro trecho favorito da história e é interessante como o fato é o que faltava para a voz de Celie se fazer presente.
Racismo e segregação são dois dos temas presente no livro, assim como problemas familiares, agressão, sexualidade, exploração e imigração. Esperança, amor, fraternidade, companheirismo e cumplicidade estão do outro lado da equação, para equilibrar uma história que poderia ser só sobre tristeza, mas é acima de tudo sobre esperança, sobre acreditar que é possível mudar e ser feliz, mesmo que o passado tenha sido de misérias.
Recomendo A cor púrpura de Alice Walker para leitores que gostem de histórias de época, livros epistolares, enredos que oferecem uma montanha russa de emoções e que fazem refletir principalmente sobre a nossa vida e as nossas escolhas. Minha nota para A cor púrpura foi de cinco estrelas no Skoob e favorito. Vocês já leram? Como foi a experiência?
Vídeo de opinião publicado no canal do Estante da Nine
Beijos!
Fotos: Nine Stecanella
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