28 de janeiro de 2018

O salário do medo de Georges Arnaud



O salário do medo
Autor: Georges Arnaud
Editora: Abril Cultural
Edição: 1981
Páginas: 186
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Num pobre país da América Central, quatro amigos dispõem-se a uma incrível aventura: transportar uma imensa carga de explosivas - destinada a extinguir um incêndio num poço de petróleo - por uma estrada de difícil acesso. Uma longa e louca viagem onde quatro homens vivem o medo sob as mais variadas formas. Um romance extraordinário. Um clássico do romance de ação e suspense.

Eu viciei na coleção Grandes Sucessos da Abril Cultural, lançada entre 1980 e 1983, muito porque a cada leitura eu me surpreendo com a variedade e a qualidade das histórias. Não, não gosto de todos os livros igualmente, mas todas as experiências com a coleção até agora foram ótimas e O salário do medo de Georges Arnaud está nessa lista. Hoje eu vou compartilhar com vocês a minha experiência de leitura, os meus pontos favoritos da história e porque esse enredo merece uma chance.

O cenário de O salário do medo é a América Central. O livro começa com uma explosão em um poço de petróleo e vários nativos mortos. Um mistério permanece no ar sobre como a empresa americana lida com a situação publicamente e a partir daí começa a busca por motoristas dispostos a enfrentar um terreno extremamente acidentado, por vários quilômetros, carregando nitroglicerina para uma área de mineração. 




Os personagens apresentados ao leitor por Georges Arnaud não são exatamente simpáticos, mas são extremamente humanos. Os quatro motoristas são europeus vivendo na América Central em situação perto da miséria e estão dispostos a enfrentar uma situação de vida ou morte pela chance de mudar de realidade e ir embora de um lugar degradante.

O começo do livro foi truncado, não vou mentir, e por ser uma leitura que andou comigo na bolsa a primeira parte foi fragmentada e isso certamente prejudicou meu envolvimento com O salário do medo. Porém, a partir da viagem e todo debate que é expresso nela, foi impossível largar a história que quase me enganou, mas teve um final extremamente simbólico. Aliás, muita coisa fica implícita no enredo, Georges Arnaud não vai explicar as ideias nas entrelinhas, mas se o leitor tiver interesse, como eu tive, tenho certeza que vai notar algumas camadas em O salário do medo

O salário do medo - página 55




Durante a viagem é que acontecem os momentos mais significativos, mas antes dela o leitor tem uma boa ideia do cenário, do tipo de exploração que a empresa gringa leva à América Central, da situação em que vivem nativos e estrangeiros, a não ser que se seja rico, e como a prostituição e o alcoolismo são normais nessa sociedade. As pessoas do local entendem que nada vem de graça e sempre que uma novidade chega à comunidade ao invés de euforia, como era de se esperar levando em conta a pobreza, o que predomina é a dúvida e a desconfiança.

A viagem com caminhões carregados de nitroglicerina é sem dúvida o ponto alto da narrativa. Tanto pelo ritmo que Georges Arnaud dá ao texto, quanto aos diversos obstáculos que impõe aos protagonistas e como escolhe duas personalidades tão diferentes e contrastantes para conduzir o leitor na aventura. O livro tem cenas que me causaram desconforto físico e em muitos momentos é compreensível aquele limiar da perda da razão que os dois homens vivem em vários momentos da viagem. 




O final dá um banho de água fria no leitor, mas os personagens, de certa forma, não foram tão otimistas quanto eu. A analogia social e o debate ético do livro trazem um desfecho pessimista do meu ponto de vista, mas realista sim, e mais do que deveria, inclusive. Tantas décadas depois da publicação algumas estruturas econômicas, políticas e sociais apresentadas por Georges Arnaud em O salário do medo parecem não ter evoluído tanto quanto deveriam o que resulta em desigualdade para todos nós. Leitura diferente, surpreendente e recomendada, claro.

Beijos!

Fotos: Nine Stecanella
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