11 de fevereiro de 2015

As mentiras de Locke Lamora de Scott Lynch

 


As mentiras de Locke Lamora
#1 Nobres Vigaristas
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Edição: 2014
Páginas: 464
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O Espinho é uma figura lendária: um espadachim imbatível, um especialista em roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da excêntrica cidade de Camorr acredita que ele seja um defensor dos pobres, enquanto o restante o considera apenas uma invencionice ridícula. Franzino, azarado no amor e sem nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem por trás do fabuloso Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada. Ele de fato rouba dos ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os pobres não veem nem a cor do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo para os bolsos de Locke e de seus comparsas: os Nobres Vigaristas. O único lar do astuto grupo é o submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser assolado por um misterioso assassino com poder de superar até mesmo o Espinho. Matando líderes de gangues, ele instaura uma guerra clandestina e ameaça mergulhar a cidade em um banho de sangue. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.

A resenha de hoje é minha primeira leitura para o desafio literário 2015 e corresponde ao mês de janeiro com o tema medieval. Escolhi o livro As mentiras de Locke Lamora, primeiro volume da série Nobres Vigaristas do escritor Scott Lynch. Apesar de ter começado a história num momento de ressaca literária e ter demorado pra caramba para terminar o livro, a experiência foi incrível. Como sempre, vou pular o resumo e usar a sinopse do Skoob para não deixar este post incrivelmente extenso.

A história se passa em Camorr e é narrada em terceira pessoa. Resolvi começar a resenha destacando estes dois pontos porque eles são essenciais na primeira parte da história. Isso porque esse país (vou me referir a Camorr assim embora não tenha certeza se é a nomenclatura correta) tem uma estrutura social e política bem definida, inclusive com uma aliança chamada de “Paz Secreta” entre os nobres governantes e o líder das gangues, Capa Barsavi. A narrativa em terceira pessoa é importante porque além de não ser linear, ou seja, ela conta o presente e depois volta a um fato do passado, dá uma visão excelente de todos os personagens da história. Primeiro nós os conhecemos no “agora”, para então descobrir com fatos de anos atrás como cada um chegou onde está e como.

Locke Lamora chama atenção desde a primeira linha do primeiro capítulo em que começamos a conhecer sua história. Neste mundo criado por Scott Lynch é comum a peste atacar e dizimar a população, mas por algum mistério não revelado as crianças são resistentes a doença. Os órfãos são traficados como escravos, mortos ou comprados por aliciadores que os treinam para tornarem-se ladrões. É impressionante notar o paralelo entre a sociedade do livro, onde não há atenção a essas crianças, e aquilo que vivemos na nossa realidade, onde buscamos valorizar a primeira infância e qualificar a educação (um tanto utópica ainda, mas enfim...). Locke é encontrado com cinco anos e desde jovem se mostra inteligente e com um instinto de sobrevivência incrível, mas por se meter em muitas encrencas, sua vida se torna um grande desafio.


Apesar de Locke ser o personagem principal, o núcleo dos Nobres Vigaristas é muito importante para o desenvolvimento do enredo. Todos os amigos/ irmãos do protagonista tem seu papel na história, inclusive o mentor do grupo, padre Correntes. Aliás, a religiosidade no livro é muito presente, usada principalmente como artimanha para novos aprendizados e golpes, mas, ainda assim, com ideologias e regras seguidas até o fim (digo literalmente, porque temos uma revelação muito pertinente nas páginas finais). A vida de todos esses personagens, especialmente de Locke Lamora, começa a mudar quando chefes de outras gangues começam a ser assassinados facilmente. E o livro pega fogo.

Como eu disse lá em cima, apesar de ter demorado para concluir a leitura, a partir de certo ponto era impossível não pensar sobre o que ia acontecer a seguir. Locke, já homem feito, e seus Nobres Vigaristas, são extremamente bem-sucedidos em seus golpes, o que desperta o interesse de várias “organizações” e culmina com um puta problema na vida de todos eles. Além de manter suas identidades a salvo, os Nobres Vigaristas precisarão descobrir quem é o assassino e os seus planos, manter a fachada de ladrões “comuns” e, claro, não serem pegos pela guarda de Camorr.

Scott Lynch não poupa nos palavrões e nas cenas sanguinolentas, mas todas elas estão em harmonia com o contexto. É impressionante como simpatizei com os Nobres Vigaristas, apesar de não serem figuras exemplares e acredito que o propósito do autor tenha sido esse. Eles não são vilões, tem seu código de conduta e, na verdade, são uma família unida por circunstâncias desastrosas. É impossível não torcer por eles. E o vilão, bom, ele é um vilão mesmo, com “V” maiúsculo movido por vingança.


Eu cotei o livro com quatro estrelas e favoritei. Não dei a nota máxima porque apesar de a narrativa ser fluída, é bastante, bastante mesmo descritiva, uma característica de livros do gênero. Alguns momentos, confesso, foi maçante passar pelas cenas de cômodos e lugares novos, mas esse também é um ponto positivo, já que Scott Lynch constroi a trama de forma que o leitor entenda tudo que está envolvido e em jogo.

Eu adorei a capa escolhida pela editora Arqueiro, que é diferente da americana, mas segue a mesma ideia. A diagramação tem boa fonte e entrelinha e o livro tem páginas amarelas. Encontrei poucos erros de revisão, quatro palavras com uma letra trocada e uma frase sem um “que”, pelo que anotei aqui, o que é bom, já que o livro é extenso e esses erros não comprometem em nada a história. A Arqueiro já lançou no Brasil o volume dois, Mares de sangue, e depois de o final de As mentiras de Locke Lamora estou louca para ler.


Recomendo a leitura para quem gosta de fantasia, aventura e ação, com personagens contraditórios e corruptos e algum (muito) sangue. Ah, prepare seu coração porque o final é de deixá-lo em frangalhos. Espero que tenham gostado do post de hoje. Contem-me se já leram ou ficaram com vontade de ler e se a resenha foi bacana.

Beijos!
Fotos: Nine Stecanella
*Livro recebido da editora Arqueiro
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